Portugal tornou-se no país do prefixo Des.
Desempregados, Desamparados e Desnorteados.
Desempregado é aquele que tem falta de trabalho, Desamparado
é aquele que precisa de auxílio e Desnorteado é aquele que não tem rumo.
Neste país, para não ficar desamparado, um desempregado é
tratado como suspeito de um crime, o crime de pretender ser um desempregado não
desamparado, depois de ter descontado o suficiente para sê-lo, de acordo com as
regras da Segurança Social e, de acordo com esse estatuto de suspeito, é sujeito
a medidas de coação mínimas – Termo de Identidade e Residência e Apresentações
Periódicas, sendo de louvar, no entanto, que seja poupado à humilhação das
apresentações nas autoridades judiciárias ou policiais - deve apresentar-se em
Juntas de Freguesia ou Centros de Emprego.
Para provar que está a fazer os possíveis para deixar de ser
um desempregado não desamparado? Claro que não, apenas para mostrar que não
fugiu continuando a receber os valiosos 65% do ordenado que recebia antes de
adquirir este meritório estatuto. E assim, de 15 em 15 dias, caminha para o
Centro de Emprego, ou Junta de Freguesia, onde espera entre 5 a 10 minutos pela
sua vez e depois mais 1 minuto enquanto verificam a sua identificação e marcam
nova apresentação. Se procurou emprego? Não importa…
Isso só é importante se for chamado para uma sessão individual
e aí, vem o desnorte - É obrigado a provar que procurou activamente emprego, com
uma candidatura por semana: presencial, espontânea, por convocatória, tanto
faz, desde que o papel esteja lá e prove que fez uma tentativa semanal. É aqui
que entram todos aqueles que querem continuar desempregados não desamparados,
ou que não conseguem deixar de o ser, pelos mais diversos motivos, como a
idade, o género, as incapacidades, os filhos, todas essas discriminações que
existem mas que ninguém parece ter interesse em combater.
Pensei pela cabeça e achei-me no país dos desempregados,
desamparados e desnorteei-me.