sexta-feira, 4 de abril de 2014

Prefixo Des


Portugal tornou-se no país do prefixo Des.
Desempregados, Desamparados e Desnorteados.
Desempregado é aquele que tem falta de trabalho, Desamparado é aquele que precisa de auxílio e Desnorteado é aquele que não tem rumo.
Neste país, para não ficar desamparado, um desempregado é tratado como suspeito de um crime, o crime de pretender ser um desempregado não desamparado, depois de ter descontado o suficiente para sê-lo, de acordo com as regras da Segurança Social e, de acordo com esse estatuto de suspeito, é sujeito a medidas de coação mínimas – Termo de Identidade e Residência e Apresentações Periódicas, sendo de louvar, no entanto, que seja poupado à humilhação das apresentações nas autoridades judiciárias ou policiais - deve apresentar-se em Juntas de Freguesia ou Centros de Emprego.
Para provar que está a fazer os possíveis para deixar de ser um desempregado não desamparado? Claro que não, apenas para mostrar que não fugiu continuando a receber os valiosos 65% do ordenado que recebia antes de adquirir este meritório estatuto. E assim, de 15 em 15 dias, caminha para o Centro de Emprego, ou Junta de Freguesia, onde espera entre 5 a 10 minutos pela sua vez e depois mais 1 minuto enquanto verificam a sua identificação e marcam nova apresentação. Se procurou emprego? Não importa…
Isso só é importante se for chamado para uma sessão individual e aí, vem o desnorte - É obrigado a provar que procurou activamente emprego, com uma candidatura por semana: presencial, espontânea, por convocatória, tanto faz, desde que o papel esteja lá e prove que fez uma tentativa semanal. É aqui que entram todos aqueles que querem continuar desempregados não desamparados, ou que não conseguem deixar de o ser, pelos mais diversos motivos, como a idade, o género, as incapacidades, os filhos, todas essas discriminações que existem mas que ninguém parece ter interesse em combater.

Pensei pela cabeça e achei-me no país dos desempregados, desamparados e desnorteei-me.